No último dia 19 de março, o Brasil bateu um preocupante recorde de 1,8 milhão de casos e 630 mortes por dengue desde 1º de janeiro, registrando um coeficiente de 954,2 infecções por 100 mil habitantes. O cenário epidêmico atingiu, até aquela data, 13 estados e o Distrito Federal. É uma emergência em saúde pública sem precedentes no país em relação a uma arbovirose.
A proliferação da dengue não é uma exclusividade brasileira. Outros países latino-americanos, como a Argentina e Paraguai, também sofrem com surtos da doença provocada pela picada do mosquito Aedes aegypti. Além disso, o aquecimento climático global leva a registros de infecções até mesmo em localidades como Espanha, Itália e França, de temperaturas mais amenas, tendo como vetor, neste caso, o mosquito Aedes albopictus.
A escalada global da dengue já é uma preocupante realidade, com aumento nas taxas de transmissão superior a oito vezes nas últimas duas décadas. Considerando que 5% das pessoas infectadas podem desenvolver formas graves da doença, esta equação fica cada vez mais complicada porque o risco do avanço do número de hospitalizações e de mortes aumenta exponencialmente.
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) indicam a existência de 390 milhões de infecções pelo vírus da dengue por ano no mundo, 96 milhões das quais com a apresentação de manifestações clínicas, ou seja, de pacientes sintomáticos. Em 2019 foram registrados 56 milhões de casos em diversos países, com 36 mil mortes. O número de casos considerados graves chega a 500 mil ao ano, e a taxa de mortalidade entre pacientes internados gira em torno de 10%. Não é pouca coisa, e não podemos subestimar uma doença que, segundo a mesma OMS, pode atingir uma população de 3,9 bilhões de pessoas em 129 países, suscetíveis à infecção. É algo muito sério.
Por se tratar de uma enfermidade transmitida por vetor, por meio de quatro diferentes subtipos, e de não haver terapia específica, a dengue é um problema de saúde complexo. Há perspectivas de desenvolvimento de antivirais para tratamento da doença, mas não é algo para já. A vacina disponível é atualmente ofertada em quantidades escassas e insuficientes para conter epidemias. A prevenção por vias não farmacológicas e a assistência resolutiva aos doentes para evitar complicações e óbitos seguem sendo as principais armas para o enfrentamento da doença.
Médico infectologista, professor titular da Faculdade de Medicina do ABC e Professor Livre Docente da Universidade de São Paulo. Foi diretor técnico do Serviço de Saúde do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Foi fundador e diretor da Casa da Aids por oito anos. Assessor especial do Governador Mario Covas, também foi diretor-executivo do Incor, diretor presidente da Fundação Zerbini e diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Coordenador do programa de Assessoria Aids e Endemias de Angola. Em setembro de 2013, a convite do Governador Geraldo Alckmin, assumiu como secretário de Estado da Saúde, onde já realizou diversos programas voltados a saúde pública como o Santas Casas Sustentáveis, Mulheres de Peito, Filho que Ama Leva o Pai ao Ame, além de entregar quatro hospitais e três Ambulatórios Médicos de Especialidades.