Quando a Qualificação Não Basta: A Insegurança Jurídica do EB-2 NIW

By Gerich Hameriret 4 Min Read

O visto EB-2 NIW se transformou, nos últimos anos, em uma das rotas mais procuradas por brasileiros interessados em viver legalmente nos Estados Unidos. Ao prometer um caminho para o green card com base em mérito profissional — e sem a necessidade de uma oferta de trabalho —, ele passou a ser visto como uma alternativa viável e atrativa. No entanto, a realidade enfrentada por muitos candidatos tem revelado um cenário bem diferente: o da frustração, da incerteza e da ausência de garantias mínimas.

J.L., advogado brasileiro com sólida carreira, foi um dos que apostaram nesse caminho. Após reunir toda a documentação necessária, comprovar sua qualificação e apresentar um plano de contribuição relevante para os EUA, ele acreditava estar em posição favorável para conquistar a aprovação. Para sua surpresa, foi negado duas vezes. A última resposta, inclusive, continha erros claros e menções a aspectos que não diziam respeito ao seu processo, o que evidenciou o despreparo na análise.

A raiz do problema está no funcionamento do sistema de imigração americano. Os pedidos do EB-2 NIW são analisados por agentes administrativos do USCIS, que não são obrigados a ter formação jurídica ou conhecimento técnico aprofundado nas áreas de atuação dos candidatos. Essa estrutura permite que as decisões sejam tomadas com alto grau de subjetividade e pouca uniformidade.

A situação se agrava com a atuação de alguns advogados de imigração que, em busca de contratos valiosos — que podem ultrapassar US$ 40 mil —, vendem o processo como algo simples, sem alertar os clientes sobre os riscos reais. Muitos omitem que o julgamento final está nas mãos de funcionários sem obrigação de seguir critérios jurídicos claros, o que transforma o processo em uma espécie de loteria.

O caso de J.L. não é isolado. Fóruns, redes sociais e grupos especializados reúnem centenas de relatos semelhantes. Profissionais de diferentes áreas — direito, educação, engenharia, comunicação — enfrentam negativas mesmo com dossiês robustos e elaborados com suporte profissional. A frustração vem não só do dinheiro investido, mas também da sensação de que o mérito, por si só, não é suficiente.

Apesar de ser um instrumento válido, o EB-2 NIW precisa ser encarado com cautela. Ele não é uma garantia, mas sim uma possibilidade — e uma possibilidade que, muitas vezes, esbarra na imprecisão dos critérios e na ausência de mecanismos justos de recurso. Sem transparência no processo e com profissionais que silenciam sobre as falhas do sistema, o risco de cair em armadilhas é alto.

É por isso que, para quem deseja tentar esse caminho, informação clara e realismo são indispensáveis. A história de J.L. deixa um aviso claro: mais importante do que ter um bom currículo é saber exatamente em que terreno se está pisando. O sonho americano pode ser real, mas não se deve ignorar as barreiras invisíveis que podem torná-lo distante — mesmo para os mais preparados.

Autor: Gerich Hameriret

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